domingo, 11 de julho de 2010





















O Largo das Dores é uma praça no centro da cidade da Póvoa de Varzim em Portugal. Classificada pelo município como espaço de interesse patrimonial, é notada por possuir duas igrejas, onde desde tempos ancestrais existiam ermidas, uma das quais foi igreja matriz.

O Largo das Dores é uma placa giratória e de ligação ao interior do município, dado que termina ali a antiga estrada nacional para Barcelos (EN205), pela Rua Família Bonitos de Amorim. Logo, é local de passagem das carreiras de transporte rodoviário com destino a Barcelos, Braga, Famalicão e Guimarães.

O Largo é todo percorrido pelo mesmo parque de estacionamento subterrâneo da Avenida Mouzinho de Albuquerque, e por essa avenida, o largo liga-se à orla costeira. Pela rua de São Pedro liga-se ao Bairro da Matriz.


Vila Varzim romana e medieval

Historicamente, O Largo das Dores foi o Lugar da Mata, localizado na zona de Vila Velha, um lugar pré-Dionísio que se denominava Varzim dos Cavaleiros (Veracim dos Cavaleyros), em Villa Verazim (Varzim). Vila Velha revela elementos de ser habitada desde a época romana. Sendo, por isso, considerada como o núcleo de Villa Euracini. O lugar ficava entre a Póvoa Nova de Varzim, o novo centro urbano criado em 1308, e a Vila Velha, topónimo que aparece já no século XIV. Estes Locais ficavam a poucas centenas de metros do largo.



O templo primitivo e a lenda da Senhora de Varzim

No século XI, existia na parte norte do largo, uma ermida românica de evocação a Santiago - a Ermida da Mata. A freguesia de Santa Maria da Póvoa de Varzim é referida em 1456 num registo de Ordens Menores, até então a paróquia da Póvoa de Varzim estava integrada na de S. Miguel-o-Anjo de Argivai, apesar da existência de ermida própria, provavelmente, já nos anos 1000. A capela torna-se na primitiva Igreja Matriz da Póvoa de Varzim, onde passou a ser venerada Nossa Senhora de Varzim, uma imagem do século XIII, e o templo românico-gótico passou a intitular-se Igreja de Santa Maria de Varzim e sofrido melhorias durante o período filipino.

O Lugar da Mata embora fora do núcleo urbano da Póvoa, era muito movimentado por ser um cruzamento entre vários caminhos, nomeadamente a estrada de Vila do Conde a Esposende, que cruzava ali com os caminhos que vinham da Giesteira e outros arrabaldes.

As tradicionais cerimónias da Semana Santa da Póvoa de Varzim, com fama no noroeste peninsular, surgem em Abril de 1687 na Igreja Matriz, graças a António Cardia, piloto-mor da armada portuguesa, e sua filha.


O Século XVIII faz-se notar pela prosperidade da comunidade piscatória, que terá impacto na Póvoa de Varzim como um todo. A Igreja de Santa Maria de Varzim foi substituída como Matriz pela actual igreja matriz em 1757, por ser pequena e excêntrica ao centro da Póvoa. A Igreja era notada por possuir a figura de uma cobra, destruída no século XVIII para obras de melhoria da igreja. O povo associava este ofídio, tipicamente românico, com a lenda do aparecimento milagroso da imagem de Nossa Senhora de Varzim. Passou a designar-se "Igreja da Misericórdia", devido a uma devota de Vila Velha, Maria Fernandes, viúva de Manuel Francisco Maio, que deixou os seus bens para fundar, na antiga matriz, a Irmandade da Misericórdia em 1756, reunindo a si, a Irmandade dos Passos, que já existia no templo. Surgindo assim a Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim. O despovoamento da Vila Velha fez com que, em meados do século XVIII, apenas existissem ali 4 casas e campos cultivados.

O Tenente Francisco Felix Henriques da Veiga Leal, na Noticia da Villa da Povoa de Varzim, feita a 24 de Mayo de 1758 conta:

Logo ao poente do adro da igreja da Misericordia se acha um campo a que o povo chama das passadas, ou pègadinhas: he a tradicção de que n’este lugar, onde em uns penedos se acham gravadas umas profundidades a que chamam passadas ou pégadas apparecera a milagrosissima imagem da Senhora de Varzim (...) Os mareantes tanto d’esta villa, como dos povos circumvisinhos tinham n’ella grande fé (...) Os capitães portuguezes mercantes d’estas visinhanças passando por esta costa a salvam com a artelharia de seus navios. Dizem que em sua apparição a collocaram na capella da Madre de Deus, que estava dentro do povoado, e faltando no outro dia a imagem da Senhora, a acharam no mesmo lugar dos penedos em que apparecera. Consta que no lugar d’esta igreja da Misericordia havia uma capella da freguezia, e dizem que com a invocação de S. Thyago, pouco frequentada por ter ao pé de si uma mata em que se viam muitos bichos venenosos especialmente uma grande cobra(...) observaram que passando d’ahi a poucos dias um nacional para o arrabalde da Villa Velha, em cujo caminho se acha uma fonte, vira este que a grande cobra largara a peçonha sobre uma pedra para ir beber agoa, o qual logo animosamente lhe espalhara o veneno, e cobrindo-o com a mesma pedra, que voltara, se pozera em fugida, e dando parte do successo viera com os outros observar as subsequencias, e viram que a cobra se fazia em pedaços e morrera.


A Igreja foi demolida em 1910 por se encontrar em mau estado de conservação e para prolongamento da Avenida Mouzinho de Albuquerque. Junto à igreja, a construção da nova Igreja da Misericórdia inicia-se um ano antes. Pedras de valor histórico ou artístico, como a porta românico-gótica e pedras sigladas foram salvas e encontram-se expostas no museu municipal.


Do Senhor do Monte à Senhora das Dores

A Igreja da Senhora das Dores, origem toponímica do largo, encontra-se num local ligeiramente elevado onde era venerado anteriormente o Senhor do Monte numa outra antiga ermida. A alteração de evocação ocorreu a partir de 24 de Julho de 1768, quando o arcebispo concede autorização para a colocação da imagem da Senhora das Dores na ermida a um grupo de estudantes de Gramática Latina devotos que estavam a ser ajudados por alguns moradores. A partir daí deu-se o início de uma campanha que visava remodelar a antiga ermida que só terminou no século XIX com as seis capelas.


A Fome de 1811

O Inverno rigoroso e prolongado de 1811, causam a Fome de 1811 entre os pescadores e a epidemia que se lhe seguiu, levando à criação do hospital provisório numa sala dos Paços do Concelho nesse ano. No entanto, tornou-se impossível atender a tão elevado número de enfermos e com a devida qualidade para tratar os doentes, a Câmara pediu e obteve licença para estabelecer um hospital provisório numa sala dos Paços do Concelho. O espaço não conseguia substituir um hospital montado de raiz, e assim a Câmara pede ao rei João VI o estabelecimento definitivo de um hospital na urbe e de examinar terreno para esse fim. O pedido foi bem acolhido e desceu ordem para começarem as obras em 1819, mas só começaram em 1826, volvidos 7 anos, devido ao zelo do benemérito José António Alves Anjo e outros poveiros. Depois de 9 anos de obras, no dia 29 de Junho de 1835 é inaugurado o Hospital da Misericórdia. O hospital ficava anexo à Igreja da Misericórdia, a antiga Igreja de Santa Maria de Varzim, substituindo assim o hospital provisório na Câmara, criado em 1811. O novo hospital tinha 6 enfermarias espaçosas, asseadas e bem ventiladas, tendo-se estabelecido anos mais tarde uma sétima, a de São João, com sala anexa para os que não tinham família ou por necessidade de doença ali tivessem que estar, mandada erigir por João Guimarães, um filantropo natural de Donim em Guimarães.


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